[Entrevista hipoteticamente realizada em 29 de Janeiro]
Olá! Estamos aqui nesta noite com os ilustres filósofos Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia para um importante debate sobre Inovação.
Heráclito: Olá, jovens.
Parmênides: Oi.
Sejam bem-vindos. Desde já agradeço por terem aceitado participar desde bate-papo, mesmo com a histórica divergência de ideias que os cercam. Vamos direto ao assunto: o que é inovação?
Parmê: Ela não existe. A idéia de existir algo novo é uma ilusão. As coisas são como são, não existe nada novo. O universo é imutável. Tudo o que é, é. E o que não é, só pode ser uma negação do ser e, portanto, é nada. Afinal, como poderia-se criar coisas “novas” se tudo que existe já está aí? Dizem que tudo se transforma e nada se cria, mas isso é um efeito ilusório dos nossos sentidos: como algo que é, poderia deixar de ser?
Herá: Vejo que deixa de perceber o fundamental, Parmênides, o de que o que era antes não é o que é agora. Tudo é dinâmico e por isso nada é igual. Nada permanece igual: tudo é novo, tudo se renova. Leia um blog que você já leu, e não será igual.
Parmê: Entendo sua dúvida, ingênuo pensador, e não vejo novidade nela. As mudanças, aquilo que pode ser, ou seja, o Vir-a-Ser que encontramos constantemente no mundo é uma ilusão dos nossos sentidos, na qual nos enganamos pensando que o não-ser é, e que o Vir-a-ser tem um ser.
Herá: Aí que se engana, caro semi-filósofo, tudo é novo, é só perceber. O iPod não é só mp3 player, pois o mp3 de antes não é mp3 de agora. Tudo passa, nada permanece. As coisas estão em constante renovação, é o fluxo: dizia o cantor “Nada do que foi será, denovo do jeito que já foi um dia”.
P: Pense um pouco, proto-intelectual. O Heráclito não é o Heráclito? O que é, é. Se o Heráclito não for o Heráclito, ele não-seria e isso significa ser nada (o que, se tratando de você, me faz rever este conceito por um momento…). Não és tu, único, absoluto e idêntico a si mesmo?
H: Então quer dizer que o Parmênides de hoje é igual ao Parmênides de ontem? Você e suas pseudo-opiniões. Chego quase a acreditar que sim, vendo-o manter o mesmo raciocínio infantil dos anos primeiros…

Paradoxos
Parece que temos grandes divergências por aqui…
Parmênides: As divergências acabarão assim que o outro participante desta entrevista se deixe persuadir pela Verdade. As coisas apenas parecem novas, mas não o são. Retomo: a aparência das coisas é Vir-a-Ser, pois entendemos ela como constante mudança mas, na realidade, o verdadeiro Ser é imóvel. E são os paradoxos que demonstram isso claramente, onde duas ideias verdadeiras são contrapostas e não podem continuar verdadeiras juntas. Como não é logicamente possível haver uma meia-verdade, então uma dessas ideias só pode ser falsa. Se liga neste paradoxo… “A frase seguinte é verdadeira. A frase anterior é falsa”…
Heráclito: Denovo com essa, cara? Quando falamos em inovação imaginamos que há coisas diferentes e comparando umas às outras, temos a falsa impressão de que apenas algumas coisas mudam. A ilusão é justamente de não percebermos de que as coisas apenas nos parecem iguais, mas elas são todas novas. Nada está parado. Então, se tudo está em movimento, uma comparação é impossível.
Parmê: Ah, tu quer contar a historinha do rio outra vez? Você nada sabe… admira as coisas perenemente só sendo tão surdo quanto cego para misturar assim os contrários! Heráclito é tão lento que, se ele e uma tartaruga fossem apostar uma corrida, a tartaruga venceria.
Herá: Realmente, tens um belo de um novo paradoxo aí, pois o que você diz não condiz com a realidade. Você está ficando bom nisso… vem se tornando um grande sofista!
Senhores, acalmem vossos ânimos!
P: Argh… só ouço falácias e mais falácias!
H: Você não passa de um pré-socrático!
P: Sai pra lá, filosofinho da natureza…
H: Colaborador da Desciclopédia!
Momentos finais

Parece que a discussão sobre Inovação não está avançando muito, por isso vamos encerrando esta entrevista… Parmênides, está feliz com os andamentos da sua escola eleática? Quais são os planos para o futuro?
Parmênides: Não há razão maior para mim, do que a felicidade de estar neste projeto.
E você, Heráclito, que planos tem para os próximos anos?
Heráclito: Ando pensando em ter um contato mais próximo com a natureza, praticar escalada…
Para terminar: afinal, o Ser é ou não é?
Parmê: O que é, é. O que não é. não é. Pode ser?
Herá: Sei lá. Pede pra um pós-socrático.
E assim terminamos a primeira sessão de entrevistas históricas. Um abraço!
“O que”, de Arnaldo Antunes na versão dos Titãs.
Bem que podia chamar o Aristó pra resolver essa rinha! Ato potente seria!
Deixa que o Nietzsche resolve, meu!
Pensando pelo Eterno Retorno, acho que tudo se movimentaria estagnando-se, e isto seria um parodoxo maior ainda, já que não há como haver devir na estagnação. A não ser que a própria estagnação seja o devir. =S
Uou!
Muuuuuito bom kkk.
Faltou só ajudar Parmênides com Aristóteles.